Os motivos pelos quais o conflito atual entre Hamas e Israel se prolonga mais que os anteriores
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Os motivos pelos quais o conflito atual entre Hamas e Israel se prolonga mais que os anteriores

Desde 7 de outubro de 2023, quando o Hamas lançou um ataque inesperado contra Israel, o cenário de guerra entre ambos se transformou no mais longo enfrentamento que o país já vivenciou contra o grupo em Gaza.

Por admin 07/10/2024 - Atualizado em 07/10/2024

Um ano depois, a paz ainda parece distante, com a operação militar de Israel devastando a Faixa de Gaza e resultando em mais de 41 mil mortes, além de um número elevado de deslocados.

Este conflito, diferentemente dos anteriores, se estendeu para além das fronteiras de Gaza, alimentando tensões com o Hezbollah no Líbano, o que abriu uma nova frente de batalha na região. Hoje, aproximadamente 90% dos habitantes de Gaza enfrentam condições de vida extremas, como resultado da destruição e do bloqueio ao fornecimento de ajuda humanitária. Estima-se que mais de 100 reféns continuam sob o controle do Hamas, com um terço possivelmente falecido.

Mas o que torna esse conflito tão duradouro? A seguir, apresento alguns dos fatores que explicam a longevidade desta guerra, que novamente colocou o Oriente Médio em um cenário de grande instabilidade.

1. Um Alvo Ambicioso e Difícil de Alcançar

O ataque do Hamas em 7 de outubro, que resultou na morte de quase 1.200 israelenses, provocou uma reação forte de Israel. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu eliminar o Hamas de forma definitiva e alcançar uma “vitória total” sobre o grupo em Gaza. No entanto, diversos analistas militares israelenses e até ex-primeiros-ministros, como Ehud Olmert, destacam que esse objetivo não é realista.

O Hamas é um movimento profundamente enraizado em Gaza, com um braço político e militar que governa a região desde 2006, após vencer as eleições e assumir o controle total da Faixa em 2007. Com uma base de apoio local e um sistema de valores que vai além de suas estruturas, o Hamas é visto por muitos palestinos como um símbolo de resistência. Mesmo com as ações militares de Israel, a organização mantém suas operações subterrâneas e continua a resistir.

2. A Complexidade do Resgate de Reféns

Um dos principais desafios do governo de Netanyahu é a questão dos reféns, que impede uma ofensiva ainda mais agressiva contra o Hamas. Muitos desses reféns estão escondidos nos complexos túneis subterrâneos do grupo, tornando difícil para Israel realizar ataques aéreos ou terrestres de grande escala nesses locais sem colocar em risco as vidas dos reféns.

Em novembro de 2023, um acordo conseguiu a libertação de cerca de 100 reféns em troca de 240 prisioneiros palestinos detidos em Israel. Contudo, a dificuldade de conciliar a estratégia de combate ao Hamas com o resgate seguro dos reféns tornou-se um dilema central na condução da guerra por Israel.

3. Influência da Política Interna de Israel

A política interna de Israel também desempenha um papel importante no prolongamento do conflito. O governo de Netanyahu, formado por uma coalizão com partidos da direita radical, tem adotado uma postura inflexível em relação ao conflito. Essa coalizão inclui figuras como Bezalel Smotrich, ministro das Finanças, e Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional, que têm uma postura de extrema direita e, muitas vezes, rejeitam qualquer possibilidade de cessar-fogo.

Esse contexto político torna ainda mais difícil a busca por uma solução negociada, já que qualquer tentativa de acordo poderia resultar na perda do apoio político que Netanyahu precisa para se manter no poder. Além disso, muitos analistas apontam que o primeiro-ministro tem usado a guerra como forma de desviar a atenção de seu julgamento por corrupção, uma estratégia que aparentemente tem elevado sua popularidade.

4. A Resistência Estratégica do Hamas

Apesar de ser significativamente inferior em poder militar, o Hamas tem adotado táticas que prolongam o conflito. Ao longo dos anos, o grupo construiu uma vasta rede de túneis subterrâneos que permitem que seus combatentes se desloquem e lancem ataques de guerrilha, mesmo sob intenso bombardeio israelense. A rede, que tem mais de 500 quilômetros, é um fator que dificulta muito as operações de Israel.

Além disso, a milícia tem mostrado uma capacidade de reorganização nas áreas de Gaza que já foram invadidas por Israel, evidenciando a falta de um plano claro por parte do governo israelense para administrar o território caso consiga enfraquecer o Hamas.

5. O Alto Custo Humano e a Oposição Interna

A guerra em Gaza trouxe uma devastação sem precedentes. Com mais de 41 mil mortos, a maioria civis, e uma destruição material de grande escala, muitos habitantes de Gaza estão vivendo em condições desesperadoras. Isso tem alimentado uma crescente insatisfação tanto com o Hamas quanto com Israel.

Pesquisas recentes mostram que muitos palestinos em Gaza começam a questionar a estratégia do Hamas, especialmente devido ao alto custo humano da guerra e à percepção de que a organização não fez o suficiente para proteger a população civil. Ao mesmo tempo, a profunda raiva contra Israel se mantém, alimentando um ciclo de hostilidade que torna qualquer resolução duradoura difícil de ser alcançada.

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