Javali, a praga do século
Enizio Moraes Maia: Despachante Aduaneiro “Sus scrofa”, o nosso conhecido javali, originário da Europa e do norte da África, foi disseminado pelo próprio homem para todos os continentes, sendo hoje encontrado em praticamente todos os lugares, exceto na Antártida. No Brasil, é considerada uma espécie invasora por não pertencer à nossa fauna. Aqui, devemos diferenciá-lo […]
Por admin 26/03/2025 - Atualizado em 28/03/2025
Enizio Moraes Maia: Despachante Aduaneiro
“Sus scrofa”, o nosso conhecido javali, originário da Europa e do norte da África, foi disseminado pelo próprio homem para todos os continentes, sendo hoje encontrado em praticamente todos os lugares, exceto na Antártida. No Brasil, é considerada uma espécie invasora por não pertencer à nossa fauna. Aqui, devemos diferenciá-lo dos demais nativos, como o cateto e o queixada, muitas vezes confundidos com os javalis, mas que pertencem a espécies diferentes, sendo mamíferos “pecarídeos” da família Tayassuidae, nativos das Américas. Já os javalis são animais artiodáctilos da família Suidae, do gênero Sus.
O javali foi introduzido nas Américas através da Argentina, em 1904, quando o médico Pedro Olegário Luro, filho de Pedro Luro, fundador de Mar del Plata, trouxe matrizes de javalis e cervos colorados (Cervus elaphus) e criou o primeiro “Coto de Caza” da Argentina, denominado “Establecimiento San Huberto”. Após uma mudança de governo no país, ele teve sua licença para exploração da atividade de caça no “Coto” cancelada, com a ordem de retirar os animais do território argentino. Assim, ele migrou com as espécies que conseguiu capturar para o Uruguai, por volta de 1909, onde criou um novo “Coto de Caza”. Como os animais eram criados soltos em propriedades rurais, acabaram se espalhando sem controle, invadindo também o sul do Brasil, pelo Rio Grande do Sul.
No restante do país, a introdução do javali se deu por motivos comerciais, principalmente pelo interesse na carne desses animais, que é muito apreciada em todo o mundo por ter menos gordura que a do suíno doméstico. Com o tempo, e devido à proibição da criação desses animais em cativeiro, muitos foram soltos na natureza, cruzando com porcos domésticos e resultando na subespécie conhecida como java-porco. No Centro-Oeste, também ocorreu o cruzamento com os chamados “porcos monteiros”. A lenda diz que os porcos monteiros são descendentes de porcos domésticos levados pelo exército paraguaio como mantimento em incursões de batalha em terras brasileiras, mas que ficaram abandonados após o término da guerra e a aniquilação das tropas paraguaias, tornando-se selvagens.
O javali é considerado uma praga porque ataca lavouras, destrói mananciais, desvia nascentes de rios e depreda ninhos de aves terrestres, além de atacar filhotes de diversas espécies, incluindo domesticados, como cordeiros e bezerros recém-nascidos. Além disso, traz riscos sanitários, pois esses animais podem ser vetores de doenças para porcos domésticos, afetando diretamente a exportação de carne suína brasileira para outros países. Por essas razões, o governo brasileiro liberou a caça e o controle desses animais em 2013.
Qualquer pessoa pode caçar javali?
Não. Para realizar o controle e abate desses animais, o interessado deve se cadastrar junto ao IBAMA e emitir o SIMAF, que é o documento que libera a atividade em determinada propriedade que contenha infestação desses animais. Esse controle pode ser feito por meio de armadilhas, captura com cães ou ainda com o uso de arma de fogo. No último caso, o requerente precisa ser CAC (Colecionador, Atirador e Caçador), atendendo a todos os critérios necessários para sua capacitação.
Outra confusão comum entre os caçadores é em relação ao transporte da carcaça abatida. Somente é autorizado transportar a carcaça do javali o caçador que tiver concluído o Curso de Capacitação em Monitoramento e Vigilância de Suídeos Asselvajados, ministrado pela Secretaria de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do RS (SEAPI). O caçador deve coletar amostras de sangue do animal e entregá-las na Inspetoria de Defesa Agropecuária de seu município. A carcaça também deve ser lacrada para transporte. O curso é ministrado online pela SEAPI, através do site (agricultura.rs.gov.br), no link de Defesa Sanitária Animal, Programa de Sanidade Suídea. As turmas são bastante concorridas, então os interessados devem ficar atentos.
Uma praga que veio para ficar…
Hoje, é praticamente impossível controlar o avanço da população de javalis em nosso país. Em nossa região, há 10 anos, precisávamos percorrer 50, 60 km até as propriedades às margens do Rio Quaraí para encontrá-los. Atualmente, já abatemos animais praticamente dentro da área urbana da cidade, com registros no Salso, Imbaá, Charqueada e outras zonas.